“ tempo emoldurado”
Este corpo de trabalho encontra-se intimamente ligado à noção da
passagem
do tempo e das memórias.
A primeira fase do trabalho, inicia-se com uma série de registos
fotográficos e
videográficos de uma peça de roupa colocada no estendal ao ar livre.
Esta peça
permaneceu no mesmo espaço/local, durante quatro meses . Já entrou no
meu corpo mas, neste momento, já não a uso. Continua, no entanto, a
fazer
parte do meu corpo.
Anuncia-se a nostalgia de um tempo que passou e não recua, um tempo memória
.
Não se trata, unicamente, neste projecto, de um tempo memória , mas
sim de registar, também, o percurso imprevisível de todas as
alterações que a
esta peça de roupa vão acontecendo.
O imprevisível começou a acontecer quando, no momento em que estive a
registar as imagens em suporte vídeo, os meus sentidos se desviaram,
inconscientemente, para todo o contexto espacial no qual todos sons
envolventes começaram a assumir particular relevância.
Este vídeo está na origem do meu trabalho.
Para além de todo este processo, também fiz intervenções na peça.
Todas as
intervenções, que a mesma sofreu, não interferiu nem a danificou
estruturalmente. Sofreu unicamente duas intervenções, uma com água e
outra
que se centrou em a amarrotar com as minhas mãos. O registo de vários
tempos
e retratos dos meus estados emocionais, ao longo destes meses, está
aqui
presente.
Foram seleccionadas algumas fotografias que têm frases como: “hoje
cantei
para ti”, “hoje estou feliz” “hoje está frio”,”hoje tens outra forma”,
”hoje cantei
para ti”, “hoje fotografei a tua mola”,”hoje o livro entrou dentro de
ti”.
O uso da palavra “HOJE”, direcciona o meu trabalho para outra
“dimensão”.A
palavra “HOJE” ,adquire o significado de passado, logo após ter
terminado a
gravação .Hoje, como momento que de imediato se torna passado . O
tempo
que foi emoldurado não se refere somente às imagens capturadas da peça
de
roupa, mas à possibilidade de ir ao encontro de outras memórias .
Essas memórias acontecem, quando comecei a fotografar as minhas mãos
dentro da peça de roupa. Posteriormente fotografo de novo as minhas
mãos,
mas segurando um objeto (livro) . Esse livro, foi-me oferecido pelo
meu pai
(Alice no Pais das Maravilhas). Assim se percebe a importância que
este ser
humano teve na minha vida . Esta é, naturalmente, uma forma de o
eternizar na
minha memória.
Recorrendo ao uso do livro como plano de fundo, foram colocados
objetos que
me pertencem e que fotografei . Muitos deles são objetos de família,
que me
foram oferecidos, outros representam pessoas, lugares que,
naturalmente, foram
e são importantes para mim, tal como fotografias com a minha imagem.
Outros,
apenas
foram escolhidos e fotografados pela seu carácter visual.
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